quarta-feira, 25 de março de 2020

EM TEMPOS DE CORONA




APRENDENDO COM O COVID 19
O grande cientista Albert Einstein deixou gravada para a posteridade a célebre frase “...Deus não joga dados...”. Creio eu que, com isso, pretendia descartar a hipótese do “acaso” no cotidiano das pessoas.
Nesses tempos de confinamento, de quarentena forçada por motivo de ameaças à saúde devido ao famigerado Covid 19, devemos meditar sobre o porquê de tal prenúncio, ou melhor, dessa advertência, um puxão de orelhas que a sábia Mãe Natureza  nos dá, vamos aproveitar para analisar os efeitos benéficos que esse mal poderá trazer a cada mortal, principalmente no que diz respeito ao comportamento individual.
No meio de tantas guerras fratricidas, de tantas agressões ao meio-ambiente, de tanta fome e miséria... enfim, de todos esses problemas que, infelizmente, pouco afetam, diretamente, à sociedade como um todo, tal epidemia caiu como uma bomba! É porque uma boa fatia da população conhece esses problemas somente pela mídia e, outros que se encontram mais próximos a eles, já não os percebem como novidade, visto que já se incorporaram à vida hodierna peculiar ao meio.
 O Covid 19 sim, é uma ameaça em tempo real ao cidadão em si. Não importa que 820 milhões de pessoas sejam afetadas pela fome no mundo e que morra uma a cada 4 segundos! Elas são apenas estatísticas na África, Caribe, América Latina, Ásia... atingem de raspão a sensibilidade coletiva!... A tuberculose, por exemplo, é uma doença que afeta, segundo a OMS, cerca de dez milhões de pessoas ao ano e um milhão e duzentas mil vêm à óbito por causa dela. Mas a tuberculose tem raízes endêmicas e o Corona vírus classificado como pandemia, tem como característica principal difundir o pavor entre a população que atinge as raias do paroxismo com um medo mórbido de adquirir o mal.
O fato positivo do malfadado vírus foi o de abrir à humanidade as cortinas de sua própria fragilidade. Mostrar que o ser-humano é vulnerável como criatura e que o planeta Terra precisa de uma atenção maior do que aquela que sua população lhe confere. Durante seis mil anos, tempo em que a história registra os fatos através da escrita, tivemos a surpreendente cifra de, aproximadamente, seis mil guerras, no mínimo três por ano, algumas delas com exorbitante número de mortos, mas todas deixando para trás, um rastro de miséria, orfandade, viuvez, feridos, aleijados, deficientes e vítimas de uma estúpida rixa ideológica, religiosa ou por motivos, muitas vezes, surpreendentemente banais. Em algumas delas combate-se por combater, já tendo se perdido no tempo os motivos que as causaram.
Mas o momento não é de pessimismo! Como falei no início é muito mais de reflexão e de tirar do aparente caos que tomou conta do mundo, lições proveitosas para o futuro do planeta. Aproveitar os instantes de quarentena e reclusão para pensar em virtudes, que apesar de estarem ainda bruxuleantes no âmago do indivíduo, remetem à solidariedade e ao amor ao próximo. Vejo, pela primeira vez, um fator, uma causa, um motivo unindo povos, sem fronteiras, sem raças, sem credos, sem envolvimentos políticos... irmanados no desejo único de combater um mal que se afigura temível e mortal. Nem em tempos de guerras cruentas vi tanta união entre os povos do mundo! Da China comunista aos Estados Unidos capitalista, o desejo de combater a doença é o único fanal que orienta nessa luta constante em busca da saúde, a vitória final, a meta que elegemos nesse “timing” como o norte de nossas vidas.
Quando passar a tempestade, que a bonança traga um olhar mais acentuado sobre a nossa tênue existência. Precisamos da Terra, mas ela precisa, mais ainda de nós. Vamos renovar as atitudes, cultivar mais a assistência social, a amizade, o companheirismo, a cooperação e, principalmente, a responsabilidade em deixar, para nossos filhos e netos, um planeta melhor, mais cheio de amor, camaradagem e reciprocidade., pois essa é a nossa meta, visto que “Deus não joga dados...”.


Fergi Cavalca



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

DEUS EM MIM


Eu sou puro Amor
Fergi Cavalca
Ser solicitado para produzir um trabalho com tema livre criou um dilema: que assunto escolher? São tantos... e todos de grande profundidade, juízo e discernimento...
Finalmente optei por um que engloba um conjunto de normas e regras de uma maneira geral; para tal recorro ao grande filósofo Baruch Spinoza cujas palavras judiciosas abaixo, revelam a essência da fé em Deus, sintetizando de uma maneira simples, porém completa, o sentido de prece que nós, formas materiais evolutivas e errantes que gememos nossas dores neste planetinha que não é mais do que um cocozinho de mosca na amplidão do Universo, insistimos em pedir — muito mais do que agradecer —, enchendo os “ouvidos” do Criador com nossas lamúrias, nossas dores e nosso desespero. Na verdade o texto de Spinoza não é uma prece que elevamos ao Deus de Nosso Coração e de Nossa Compreensão, ao contrário, é o desejo Dele em relação a nós humanos imortais que nos avaliamos mortais, para que tenhamos muito mais fé e sejamos objetivos e sucintos em nossos propósitos de evolução, aceitando o pensamento do Todo como a partícula mater de nossa existência.
Vejamos o que nos diz Deus através de Spinoza:
“...Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?”
“Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.” 
“Eu sou puro amor...”
Essa síntese maravilhosa de Deus, Justo e Amoroso, é a “Chave Mestra” que abre as portas do templo interior, do coração do iniciado e, com absoluta certeza o objeto de nossa peregrinação terrestre, principalmente o que viemos buscar ao transpor o portal da Verdadeira Luz. Esse é o propósito ao qual nos recomendamos quando escolhemos participar dos ensinamentos de qualquer doutrina iniciática ou filosófica que nos mostre a árdua caminhada em busca da tão sonhada evolução espiritual.
É no templo que se situa no íntimo, no fundo de nosso coração onde abrimos nossos olhos profanos para a Verdadeira Luz, onde invocamos o auxílio de Deus e nos cobrimos com o simbolismo próprio dos que se purificaram pela iniciação dos quatro elementos formadores, onde vamos receber lição após lição, ferramentas certas e indispensáveis para polir as asperezas de nosso caráter.
Diz-nos Albert Einstein:
Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor, lembre-se: Se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele você conquistará o mundo”.
Ao lermos o Evangelho confrontamo-nos com a máxima cristã “...Ama o próximo como a ti mesmo...”. Realmente não podemos conceber nenhum ensinamento que seja mais completo ao sentido evolutivo do que esse.
O amor — virtude que exaustivamente procuramos, mas nem sempre encontramos — é o epítome universal, o sumário da evolução e a síntese cósmica da Criação... O único objetivo para o surgimento da raça humana é o aperfeiçoamento dos benefícios que advém da prática dessa grande virtude; esse é o suprassumo do livre-arbítrio, do poder de escolha que diferencia o ser humano do bruto. Ao escolhermos o amor optamos pelo perdão das ofensas; nesse momento renunciamos definitivamente nossa origem animal e assumimos a condição humana, à imagem e semelhança de Deus. É a despedida do homem material e o início da gloria espiritual, a morte do profano e a ressurreição templária do ente divino. Como nos diz a oração acima: “Eu sou puro amor...” e é assim que somos!
Não quero ser mais prolixo! Talvez tenha atingido o objetivo, ou talvez não tenha, mas fica o desejo de que todos confiemos no Supremo Criador, sabendo que a obra do Inefável Ser que engendrou em sua mente a perfeição de um universo que para nós mostra-se infinito, tem objetivos e propósitos que ultrapassam os pequenos momentos materiais nos quais vivemos mergulhados.

Paz e Luz.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

SONHAR É PRECISO


Não nos prendemos ao termo. O sentido de paz é mais profundo do que a palavra. A paz é um sentimento que se desenvolve a partir de uma quietude interior, um bem-estar memorável onde o corpo e o espírito se espraiam na magnitude de uma calma infinita.
Dizia o mestre dos mestres, o sábio Jesus de Nazaré: “... ao chegardes a alguma casa saudai-a com a frase: a paz esteja convosco. Mas se não vos receberem, retirai-vos com a vossa paz e ao deixardes o local batei o pó de vossas sandálias para que nada possa conspurcar a vossa paz interior...”
Atingir o nível de paz profunda é alcançar a iluminação entrando em um estado de êxtase que libera a mente espiritual para uma perfeita comunhão com o Cósmico, que é o lugar onde se realizam os desígnios de Deus. Portanto a condição de paz é um estado que deve, constantemente, ser procurado pelo ser humano como ponto crucial da sua evolução.
Mas o sentido de paz não permanece apenas como num nível estático dentro do próprio ser. Se ele atinge vários indivíduos forma uma comunidade pacífica com ideais seguros de valores virtuosos e corretos. E aí se concretiza a forma-pensamento, concebendo e juntando-se egrégora da paz que atua contra a violência, o monstro feroz que avança perigosamente sobre a humanidade.
Falando em paz não poderíamos deixar de citar a Maçonaria: o maçom é universalista e possui um lema que é “tornar feliz a humanidade sem distinção de fronteiras nem de raças”. Mas para isso é importante plantar a semente da paz no coração das pessoas.
O ser humano é beligerante por natureza. O ensinamento cristão de dar a outra face não encontra eco nas atitudes da raça humana, em sua maioria. Em seis mil anos de história registrada através dos documentos escritos, há apontamentos nos anais da história de mais de dezoito mil guerras, o que dá um índice de, pelo menos, três guerras por ano durante todo o período da história. Para não ficarmos devendo, apresentamos como exemplos atuais, a Síria se despedaçando em luta fratricida, israelenses e palestinos numa guerra sem fim e algumas nações da África destroçando-se em combates persistentes onde a contagem dos mortos apontam números estúpidos que ultrapassam a casa dos milhões.
Desde a mais tenra idade devemos educar nossos filhos para um profundo sentido de paz, nunca para o revide e para a violência. Aquela frase machista de que o filho não leva desaforo para casa, deve ser riscada e trocada pelo ensinamento cristão do “amar ao próximo”. Sabemos que é difícil, mas é possível e até provável que, se começarmos a plantar tal semente, talvez um dia, mesmo que ele demore a vir, o pensamento humano possa transformar-se e o mundo viver em paz.
A maçonaria procura fazer a sua parte plantando a semente da paz nos corações humanos. É um plantio trabalhoso, duro, árduo, ingrato e que não encontra eco na sociedade. Temos contra nós o pensamento beligerante da maioria, dos filmes, das novelas que propagam temas de violência, vilões cruéis, vinganças e outros similares entendidos como virtudes que levam o espectador a “torcer” pela morte ou castigo do personagem “mau” e achar justas as vinganças pessoais.
O “herói” mata, destrói, arrasa, degola sob os aplausos da plateia ensandecida que grita pela destruição do hipotético inimigo criado pela imaginação dos autores que, sabendo dessa preferência sanguinária da maioria da humanidade exploram-na maciçamente porque garante sucesso de bilheteria. Mas se o mesmo “herói” leva um tiro, profusas lágrimas são derramadas desejando que a vingança seja alcançada a qualquer custo.
E quando o “mocinho” extermina centenas de índios, soldados, gângsteres, alemães, japoneses ou quaisquer outros estrangeiros rotulados de inimigos, os delírios desvairados de espectadores fanáticos mostra quão atrasados ainda nos encontramos.
Vamos pensar na PAZ... rezar todos os dias para que os povos se unam, as nações encontrem soluções para suas diferenças e que abraços substituam tiros e violência, fazendo com que a PAZ se alastre na Terra entre os homens de boa-vontade.
Vamos nos unir em torno dela.
“Ó quão bom é que os irmãos vivam em união...”

Fergi Cavalca

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

ESOTÉRICO OU EXOTÉRICO?


Esoterismo, o que é isso?
Eu estava fazendo uma exposição dos meus livros durante um evento, quando um senhor, já nos seus provectos oitenta anos carregados de sabedoria, acercou-se e ficou manuseando um exemplar de “Os doze degraus do Templo Sagrado”.
Acerquei-me e comentei:
― Esse livro é bastante esotérico...
― Então não serve para mim ― rebateu o ancião. ― Tenho verdadeira aversão ao termo esotérico, não gosto! Uma bobajada que nos faz perder tempo com pedras, cores, sons esquisitos, mantras...
Depois de alguma conversa em que procurei mostrar-lhe que não era assim, ele acabou comprando o livro. Mas aquilo me fez pensar: o que é esoterismo? Hoje em dia inúmeras pessoas intitulam-se esotéricos, mas dentro de uma diversidade enorme de assuntos! E aí dei razão ao velhinho que classificou tudo como bobajada. Como eu não acho que seja bobajada, embora a maioria exponha matérias sem qualquer critério investigativo, muitas vezes destituídas de nexo, resolvi pesquisar mais a fundo o termo esoterismo para não cair num lugar comum nem fazer parte do modismo crescente que o termo vem agregando entre seus seguidores.
Dentre os marcos que pessoas que seguem algum tipo de doutrina ligadas ao ocultismo estabelecem, notamos com frequência a palavra esoterismo, sem que se lhe dê uma definição precisa. Isso acontece com constância em doutrinas que se outorgam detentoras de conhecimentos secretos que devem ser preservados do saber profano. Por isso mesmo, alguns estudiosos têm procurado aprofundar o sentido dessa expressão, seja reconduzindo-a à sua origem, seja através da análise filosófica dos seus significados.
Entende-se que tal termo não existia em épocas passadas como nome indicativo para determinado segmento doutrinário, porém, como qualificativo ele servia para designar o oposto ao termo exotérico que Aristóteles usava para denominar assuntos de conhecimento público e acessível a qualquer pessoa.
O termo é derivado do grego. A palavra esoteros que forma o substantivo esoterikos significando dentro. Fazer entrar, que é o sentido maior, expressa abrir uma porta para dentro, oferecendo então uma possibilidade de que alguém que esteja fora possa entrar, no caso o saber que estava sob sigilo. Eliphas Levi aproxima o termo esotérico do conceito básico do ocultismo ou do hermetismo, ou seja, os lábios da sabedoria estão cerrados, exceto aos ouvidos do entendimento.
Mas isso traz um novo problema: Pessoas sem o devido conhecimento não podem ouvir a palavra esoterismo sem relaciona-la imediatamente a ocultismo. Na verdade, isso não tem o menor sentido, pois para o conhecedor informado o termo esoterismo é um termo iniciático, metafísico por excelência, juntando diversos aspectos que, mesmo sem serem todos eles de origem metafísica apresentam caráter esotéricos na sua essência.
Conclui-se daí que o termo não serve para qualificar doutrinas particulares e tampouco definir elites filosóficas ou intelectuais. Ele paira acima das convicções pessoais estabelecendo uma ponte entre o ser humano físico e o espiritual, o ente interior que se estabelece em consonância e consciência ao seu Criador.
Por esse motivo podemos afirmar que as Ordens iniciáticas possuem uma ligação forte com o esoterismo, pois o ritual de iniciação é uma porta pela qual entra o conhecimento transformando o profano inábil no iniciado que caminhará na senda com passos firmes.
Em inúmeras oportunidades, principalmente dentro dos livros de minha autoria, defini ou mencionei de alguma forma o termo esoterismo, algumas vezes acrescentando ou modificando sentenças sem, contudo, alterar nada na estrutura da forma. É provável que o costume de qualificar doutrinas com este epíteto tenha influenciado alguns estudiosos a misturar o termo exotérico com o conceito de esoterismo. Muitos dos ensinamentos mostrados ao público durante o dia pelos iniciados que mantinham acesa a chama da sabedoria, eram discutidos à noite com outra noção, mostrando o lado oculto da doutrina, principalmente aqueles que se revestiam da roupagem hermética.
Tudo isto explica porque nem sempre o plano esotérico tenha uma correspondência no plano exotérico, ou auferido uma vida própria, ou formado uma linguagem específica e com suas características específicas. Toda a Ordem que lega princípios ocultos ligados ao simbolismo a quem tem o direito de recebe-los e, por outro lado, recebe sem preconceitos os axiomas de outras doutrinas com capacidade de absorver filosofias diversas sem corromper a sua própria, está em consonância com os códigos eternos que caracterizam o verdadeiro esoterismo.
Finalizando o presente artigo acrescento agora que a diversidade de doutrinas as quais se cobrem com o manto do esoterismo, são, sem dúvida, uma necessidade transcendente de difundir a Gnose para se atingir o patamar que permita o homem de se interagir com o Todo, buscando assim integrar-se com a cosmogonia universal.
“Em qualquer lugar que se encontrem os vestígios do Mestre, os ouvidos daqueles que estiverem preparados para receber o seu Ensinamento se abrirão completamente”. (O Caibalion).

Fergi Cavalca

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

MISTÉRIOS DO UNIVERSO





Por que 1/137?

Mistérios! 
Quanto mais procuramos adentrar no caminho do conhecimento, mais nos deparamos com intrigantes aspectos que nos envolvem e enredam nos grandes enigmas da ainda rudimentar e incipiente mente humana.
Einstein, uma das luzes da ciência no século XX quedava-se bastante aborrecido quando esbarrava com um desses mistérios e costumava dizer. “Deus não joga dados”, definindo dessa forma sua aversão às explicações dadas por conta do acaso. Ainda do grande cientista foi a frase “a ciência sem a religião é capenga e a religião sem a ciência é cega! ”
Infelizmente continuamos capengas de um lado e cegos do outro e sem qualquer perspectiva de unir os conceitos para atingir um lugar comum. Isto porque ambas, ciência e religião são um tanto fanáticas em seus postulados e apesar de ficar provado que a verdade de hoje fatalmente será a mentira de amanhã, mesmo assim, os caminhos são bastante divergentes.
Um desses enigmas cuja a ciência não consegue definir e a religião não pode explicar é o misterioso número 137. Segundo cientistas que estudaram esse número, cujo inverso é a constante de sintonia fina 1/137, chegaram à conclusão de que este é o algarismo mais importante da ciência moderna. Mas por que? Por que se refere à capacidade dos elétrons de absorver um fóton liberando um quantum de energia base de toda a teoria da mecânica quântica.
Richard Feynman um dos maiores físico do século passado descreve o número 137 da seguinte forma: tem sido um mistério desde que ele foi descoberto há 50 anos atrás, e todos os bons físicos teóricos colocaram esse número no alto de seu mural e se preocuparam com ele. Este é um dos maiores mistérios da física: um número mágico que chega para nós sem que consigamos compreendê-lo. Pode-se dizer que “a mão de Deus escreveu tal número, e nós não sabemos de que modo Ele empunhou o seu lápis”.
O físico Wolfgang Pauli (1900-1958), outro ícone sagrado, Prêmio Nobel de física em 1945, por ter sido o descobridor do princípio da exclusão que leva o seu nome e diz que dois elétrons do mesmo átomo não podem jamais possuir os seus quatro números quânticos iguais ficou obcecado pelo 137 a ponto de dizer que se lhe fosse permitido fazer uma pergunta a Deus, tal pergunta seria: “Por que 1/137? ”

Pauli foi um dos físicos que participaram ativamente da formulação da mecânica quântica, em 1926. Nascido em Viena, trabalhava como professor em Hamburgo quando descobriu em 1924 o princípio de exclusão dos eletrons. Foi Pauli quem propôs em 1930 a existência de uma nova partícula, o neutrino (detectada em 1956).
Durante anos Pauli estudou o número 1/137 que aparece na teoria atômica, e é conhecido como “constante de estrutura fina”. O número foi encontrado em 1916 pelo orientador de Pauli, Arnold Sommerfeld, e seu inverso é muito próximo do número 137; para ser mais exato, é 137,036... O interesse neste número surge do fato de que ele não depende das unidades adotadas (por exemplo, metros ou centímetros). Um povo na galáxia de Andrômeda encontraria o mesmo valor 1/137 para esta constante, cujo valor é calculado a partir da expressão (2 π e² / h c), onde e é a carga do elétron, h a constante de Planck e c a velocidade da luz no vácuo.
O primeiro a perceber que a constante de estrutura fina é o inverso de 137 foi o astrônomo Arthur Eddington, em 1929, que buscou uma explicação para este fato, o que foi recebido com risos pela comunidade científica. Porém, o próprio Pauli se voltou para esta questão, em 1934, buscando derivar o valor desta constante a partir da teoria quântica de campos que ele e Heisenberg estavam tentando desenvolver (e que acabou não vingando). Voltaram ao assunto em 1957, novamente fracassando. Vários físicos refletiram sobre este número e sua importância, como Max Born e Richard Feynman. Um amigo de Pauli observou que o número 137 tem significado especial na cabala judaica;  o número apareceu em sonhos de Pauli e fez parte de suas discussões com Jung. Quando Pauli morreu, ele estava internado no quarto 137 do Hospital da Cruz Vermelha de Zurique![1]
Mas a grande surpresa é que o número 137 é estudado na gematria, a ciência da Kabbalah que atribui valor numérico à cada palavra. E a soma da palavra kabbalah é, justamente 137... Isso mostra o axioma hermético que diz “o que está em cima é como o que está embaixo”. A kabbalah estuda a luz que emana do Ain Soph, o Supremo Ser, e desce do plano mais elevado, Keter, a coroa, até o plano mais inferior, Malkut, o plano físico. Pela analogia do nosso axioma acima, a ciência mostra o elétron se transformando em luz, ou o momento mágico em que a partícula passa a comportar-se como onda liberando uma energia igual a um quantum.
A soma esotérica ou cabalística do número 137 resulta no número onze, ou seja 1+3+7 = 11. O número onze tem especial lugar dentro da kabbalah. Ele é considerado um número de poder; duas vezes onze resulta vinte e dois, ou seja, o número de letras do alfabeto hebraico ponto de partida para o estudo da gematria. Segundo a crença judaica explicado através da kabbalah o universo foi criado pelo som da palavra sagrada evocada pelo Criador (no princípio era O Verbo). O som de tal palavra que não podia ser pronunciada a não ser pelo Sumo Sacerdote dentro do Sanctum Sanctorum, segundo a tradição perdeu-se para sempre.

Segundo a memória da transmissão oral, o anjo Yofiel, o anjo Principe da Torá, leva consigo o número 137. Esse anjo foi quem ensinou a Moisés os segredos da kabbalah cujo valor numérico é 137.
Ainda estudando esse número misterioso encontramos que ele é o 33º número primo e o número 33 tem significado místico e cabalístico bastante interessante (idade de Cristo, número de graus maçônicos, etc).
Outro fato interessante é que a NASA através do Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) obteve a melhor maneira para medir a idade do Universo, até à presente data chegando à seguinte conclusão: a idade do Universo é de 13,7 bilhões de anos”.
Hoje existe na rede de computadores inúmeros sites que tratam do número 137 e suas interações mágicas entre a ciência e o misticismo expresso na kabbalah que podem ser acessados e pesquisados. Deixamos aqui algumas dessas “curiosidades” que absolutamente podem ser chamadas de coincidências, Grandes cientistas e pesquisadores renomados passam anos tentando resolver seus dilemas, o que mostra que tal estudo está longe de ser supérfluo ou motivo de brincadeiras.
O fato é que a frase “existe mais coisa entre o céu e a terra do supõe nossa vã filosofia” torna-se agora bastante verdadeira após quinhentos anos. Por isso somos favoráveis a que ciência e religião procurem polir suas arestas e sejam mais tolerantes na busca e pesquisa por nossas origens. A cada dia que passa chegam novas informações e descobertas que vem corroborar axiomas antigos que mostraram caminhos àqueles que quiseram trilha-los. A hora é de superar vaidades e orgulhos que só frustram as verdadeiras conquistas.
Cremos que o homem caminha para um novo horizonte onde o conhecimento científico fundir-se-á no avanço moral e ético para que se possa atingir em breve um patamar muito mais útil do que as lutas e guerras que se espalham pela terra, trazendo dor e sofrimento. Estas sangrentas guerras dão-se, muitas vezes em nome de um falso Deus que jamais se assemelhou ao Supremo Criador do Universo, mas sempre para locupletar a ganância e a fome de poder dos governos irresponsáveis que compõe o planeta..
Fergi Cavalca





[1] Notas e arquivos diversos na rede de computadores.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

FALANDO DA INDEPENDÊNCIA


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D. Pedro I, o imperador dos extremos

Eu estava em visita turística a algumas fazendas do Vale do Café, no Estado do Rio de Janeiro; todas elas, antigas, circunspectas, sábias e austeras, mas bonitas e cheias de história dos tempos dos barões; em uma delas havia um pátio na frente do casario onde velhas mangueiras, cheias de musgo sombreavam o quintal dando um ótimo frescor. Uns bancos toscos, feitos de tábuas convidavam para um descanso aproveitando a sombra daquelas gigantescas e centenárias árvores.  
Sentei-me! ao meu lado estava um senhor já bem entrado na terceira idade; cumprimentei-o e me apresentei... para quebrar o gelo começamos a conversar; ele disse chamar-se Casimiro e morar em uma cidade do interior de Minas. Por um sinal identificou-se como maçom e aí nossa conversa passou a ter uma intimidade maior e, não sei porque motivo, caiu no assunto da independência do Brasil.
Casimiro era bastante culto e em pouco tempo tornou-se um excelente professor de história. Lá pelas tantas perguntei:
― Essa época de transição entre o domínio português e a independência foi muito traumática para os brasileiros, principalmente os agricultores?
― Oh. Sim, ― respondeu Casimiro ― A luta pela emancipação política e administrativa do Brasil foi um movimento bem característico, mas de profundo significado para a economia do novo país. Foi similar a outros movimentos separatistas em vários países. Os primeiros tempos sempre são muito difíceis.
Pedi ao velho que falasse sobre a independência. Ele não se fez de rogado recostando-se no banco suspirou... depois, olhando para o céu, prosseguiu explicando:
― Por influência de algumas correntes “pensantes” e provenientes da Europa, os axiomas liberais foram entrando no Brasil e “fazendo a cabeça” dos colonos. A independência dos Estados Unidos e a Revolução francesa, por exemplo, tiveram ambas, no final do século XVIII, profundo alcance e significado nesse processo de independência das nações americanas.
Concordei, dizendo:
― Foram os movimentos iluministas, justamente, os que mais contribuíram para fomentar esse “gosto” pela liberdade.
― É verdade ― redarguiu Casimiro. ― O iluminismo, foi a filosofia que caracterizou mais tarde o liberalismo; ela ganhou o Novo Mundo, servindo de inspiração a algumas lutas internas e libertárias; no Brasil ele motivou a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, entre outras manifestações.
Procurei mostrar ao meu amigo que eu também conhecia um pouco de história:
― É por aí! A Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, todos esses estados sofriam grande influência liberal, mesmo no finzinho do século XVIII, mas de forma um pouco diferente: ― Em Minas a conjuração era intelectual, mas na Bahia o movimento foi por inteiro popular, realizado pela classe menos favorecida.
Casemiro concordou:
― É isso! Alfaiates, pequenos comerciantes e gente do povo. O iluminismo, porém, sempre foi uma filosofia intelectualizada, elitista e restrita a uma minoria de pessoas cultas e instruídas. Chegou a dar nome a um período histórico na Europa! Sem sombra de dúvidas suas ideias difundiram-se atingindo até mesmo a corte e alguns soberanos, chamados déspotas esclarecidos, do Velho Continente. Filósofos, como John Locke, Emanuel Kant, Montesquieu, Voltaire, Benjamin Franklin, Benjamin Constant, Jean-Jaques Rousseau, Diderot, Madame de Stael e outros mais, engrossaram as fileiras desse movimento intelectual.
O velho, realmente conhecia o assunto. Por qualquer meandro que eu enveredasse, ele respondia com segurança e juízo! Aproveitei para expressar a minha admiração:
― Caramba! Você é bamba mesmo em história, rapaz!
Ele pigarreou, sorriu meio sem jeito e continuou sua explanação: 
― Os acontecimentos que culminaram na Independência do Brasil se precipitaram quando Napoleão, na sua ânsia megalômana de açambarcar o mundo, exigiu o fechamento dos portos portugueses à Inglaterra. Não sendo atendido pelo regente, invadiu o pequeno país ibérico fazendo com que a rainha, o príncipe regente, toda a família real e boa parte da corte, debandassem rumo às terras da colônia. E no início do século XIX aportaram aqui, no Brasil, e estabeleceram o governo português a partir da cidade do Rio de Janeiro.
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― Para a colônia, abandonada pela metrópole por séculos ― prosseguiu meu amigo ―, esta vinda foi de vital importância; foram necessárias muitas mudanças estruturais, econômicas, sociais e culturais, para suprir as carências organizacionais do Brasil, que se mostrava bastante deficiente à época, e torná-lo capaz de receber a nobreza europeia que se transferia para a América. A rainha, D. Maria I, no final do século XVIII, revogara vários decretos do Marques de Pombal, um grande estadista e déspota esclarecido; principalmente um deles, que permitia a industrialização da colônia autorizando-a a construir fábricas que pudessem prover a terra. O Brasil que, através do ministro português havia alcançado certo status, de repente viu-se pela vontade da rainha “a ver navios”, isto é, suas indústrias foram imediatamente fechadas.
Não pude deixar de comentar:
― Acho que no âmbito intelectual essa reforma trazida pela mudança da corte para as terras brasileiras era extremamente necessária; mesmo porque a ignorância que grassava na colônia abandonada, sem escolas ou universidades alastrava-se sofregamente no meio popular. Havia teorias em acordo com as ideias liberais que preconizavam a liberdade do pensamento e da expressão, mas eram apenas para uma pequenina elite colonial ou para os filhos dela que completavam sua educação na Europa; ou então para os estrangeiros que por aqui aportavam e não possuíam compromissos com a metrópole.
Casimiro fez com o dedo polegar um sinal afirmativo e acrescentou:
― Na época essas novas teorias eram postulados que incitavam os adeptos a procurar ideias que pudessem revelar uma verdade, mesmo que esta fosse contrária aos dogmas da igreja; ou então às autoridades que guardavam seu conhecimento nos nichos ocultos do saber vigente. O liberalismo valoriza a tolerância e acredita no diálogo como meio para se chegar à tão desejada luz da ciência política e social. Talvez por isso o príncipe D. João, que era um estadista de visão, reativou a industrialização anulando o decreto real de sua mãe e criou a primeira universidade brasileira.
Voltei a comentar:
― Tenho a impressão que D. João sabia que o novo potencial mundial viria do Novo Mundo. A independência dos Estados Unidos fez com que todos os olhares da época se voltassem, para a América.
O velho sorriu concordando e continuou sua narrativa:
― É verdade, tanto que em 1815, após a prisão de Napoleão, e precisamente no aniversário da ‘Rainha Louca’ D. Maria I, o Príncipe elevou o Brasil a reino através de carta régia assinada no Paço Imperial do Rio de Janeiro, cujos principais artigos estabeleciam o seguinte:
Fez uma pausa e rememorou os fatos listando-os:
― Primeiro: Preconizava que os reinos de Portugal, Algarves e Brasil formassem um único bloco sobre a denominação de “Reino Unido de Portugal, do Brasil e de Algarves”.
― Segundo: exigia que os títulos inerentes à Coroa de Portugal, e dos quais até agora D. João, herdeiro do trono português usara, fossem substituídos em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões e Atos Públicos pelo novo título de “Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal, do Brasil e de Algarves, d’Aquém e d´Além Mar, em África de Guiné e da Etiópia, Pérsia e Índia...”
― Nesse período em que se tornou a sede do governo português ― prosseguiu Casimiro ―, o Brasil prosperou a olhos vistos. Suas grandes riquezas naturais motivaram um vivo e rápido progresso; a chegada da família imperial trouxe uma promoção crescente e vertiginosa dos valores da ex-colônia entre as outras nações, contrastando com uma progressiva estagnação e, até mesmo, um declínio de Portugal. Mas a metrópole não estava nada satisfeita.
Atalhei dizendo:
― Se a sede do governo português permanecesse no Brasil, talvez nossa posição perante o mundo fosse diferente hoje em dia. Acho que essa era a intenção de D. João, mas ele sofreu pressão demasiada para retornar.
Casimiro sorriu, aprovou e concluiu:
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― Exatamente. A volta de D. João a Lisboa, em fevereiro de 1821, foi fator de grande relevância para a consolidação da Independência. A essa altura ele já era D. João VI desde a morte de sua mãe em março de 1816, assumindo assim seu posto d’além mar como rei de Portugal. Veja que ele passou quase cinco anos governando Portugal daqui do Brasil. Nota-se que o rei não queria voltar à sua terra. Esse fato deflagrou uma política de antipatia e profunda aversão por parte da corte portuguesa; puro ciúme a todas as aquisições, políticas e materiais, obtidas pelo Brasil.
Eu estava me agradando muito daquela conversa sobre a história do Brasil. Casimiro explicava de uma maneira bastante didática e, a cada momento, surpreendia-me mais.
― A permanência do príncipe D. Pedro, herdeiro do trono português, no Rio de Janeiro, decidida no célebre “Dia do Fico”, frustrou a Assembleia das Cortes; logicamente ela esperava o regresso de toda a família real ― e o consequente abandono das terras americanas ao Governo das Juntas Provinciais. ― Este era o assunto que fervia na corte, ou seja: o Brasil volveria à condição colonial e ficaria “ao Deus dará”, abandonado pelos presunçosos portugueses que não se conciliavam com as conquistas brasileiras e exigiam o retorno imediato das terras americanas à condição anterior de simples possessão portuguesa.
― Da mesma forma que influenciara na Independência Americana e na Revolução Francesa, ― prosseguiu o velho ―, a maçonaria com suas ideias baseadas na legenda “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” instigava seus membros, quase todos eles adeptos do Iluminismo, a pugnarem pela independência em seus países, justamente por se considerarem “homens livres e de bons costumes”.
Interrompi Casimiro para dizer:
― Como maçom já ouvi falar dessa participação, mas gostaria que você esclarecesse.
― Chego lá ―  afirmou o velho. ― A maçonaria atuou em quase todos os movimentos americanos, inclusive nos Estados Unidos onde os principais líderes eram maçons; George Washington, em alguns quadros alusivos à independência, aparece paramentado com o avental da Ordem e suas vestes maçônicas. Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e outros “assinantes” da “Magna Carta”, eram maçons declarados. Hoje existem filmes e livros que falam abertamente sobre o assunto.
― Na América Latina, Benito Suarez no México, Simon Bolívar na Venezuela, Colômbia e Equador, San Martin na Argentina, Bolívia e Peru, Bernardo O’Higgins no Chile, todos eles eram maçons assumidos.
O velho apertou os olhos para se recordar melhor:
― Foi justamente por isso que maçons brasileiros proeminentes como Gonçalves Ledo, José Bonifácio, Frei Francisco Sampaio, Cônego Januário, Muniz Barreto, José Clemente Pereira e outros membros da Ordem, iniciaram uma série de trabalhos e manifestos a favor da independência, trabalhando à socapa, porém influenciando ideias. Isso levou o movimento ao ponto de procederem à iniciação, na Maçonaria, do Príncipe Regente D. Pedro, que se tornou membro através das mãos de José Bonifácio de Andrada; este era o Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico, que era a potência maçônica vigente no Brasil, e colocou D. Pedro em seu próprio cargo, tornando-o Grão-Mestre da maçonaria.
Cassimiro prosseguiu olhando para mim:
― Talvez você não saiba, mas é de conhecimento notório no meio maçônico que Gonçalves Ledo, Primeiro Vigilante da Loja Comércio e Artes, substituindo o Venerável Mestre, José Bonifácio que se achava ausente, proclamou a Independência do Brasil dentro de sua Loja Maçônica; isso se deu no dia 20 de agosto de 1822, data que ficou instituída nacionalmente nos dias atuais como o “Dia do Maçom”, simbolizando a luta da Ordem em favor da Independência. Do Grupo de Gonçalves Ledo, entre tantos, faziam parte, destacadamente, o Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, José Domingos Ataíde, o coronel Francisco Maria Gordilho de Barbuda, Muniz Barreto e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.
Casimiro me olhava. Seus olhos brilhavam demonstrando entusiasmo. Prosseguiu relatando os acontecimentos sobre a independência.
― Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em sessão da loja “Comércio e Artes” propôs que se desse ao príncipe um título conferido pelo povo: “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”; a ideia foi aprovada por todos. D. Pedro, entretanto, disse que aceitava o título, mas sem o “Protetor”, apenas como “Defensor”. O fato é que essas pressões e manobras exercidas sobre o regente culminaram com o famoso Grito do Ipiranga: “Independência ou Morte”, em 7 de setembro de 1822 e que criou o Império do Brasil.
Casimiro sorriu abanando a cabeça. Depois suspirando, prosseguiu:
― A tão sonhada independência, entretanto, fez surgirem muitas diferenças e proliferarem as opiniões: Havia os que defendiam um poder centralizado e forte e, entre eles estava o novo Imperador do Brasil que adotara o título de D. Pedro I. Os liberais colocavam-se favoráveis a um poder menos absoluto e os democratas pelejavam por uma igualdade social.
Casimiro novamente balançou a fronte em gesto negativo; exprimia profunda desolação:
― D. Pedro, autocrático e déspota por natureza, advogado extremado do absolutismo e totalmente refratário a qualquer demonstração liberal ou democrática, mostrou desde o início de seu governo um pulso tirânico e violento. Era tinhoso, teimoso e autoritário o monarca brasileiro com sotaque português.
Não pude deixar de rir com o comentário:
― Tudo o que nos chega do imperador ― falei ― são características extremamente pessoais. Individualista, preconceituoso, arrogante... será que ele era mesmo assim?
Casimiro sorriu satisfeito com o comentário:
― Pelo menos não era de meias palavras. Ou gostava ou não gostava!  Logo que se viu com o poder nas mãos, apenas dezessete dias após a proclamação, tratou de fechar a maçonaria e proibir que a Ordem voltasse a se reunir, esquecendo-se de sua afiliação à fraternidade e do alto cargo que desempenhava nela. Afinal ele sabia muito bem como a Maçonaria formava opiniões.
O velho maçom apertou os olhinhos reforçando as rugas de seu rosto e comentou sorridente:
― Tal fato lembra-nos o velho e oportuno adágio Adora quod incendisti, incende quod adorasti...” [1] atribuído a S. Gregório de Tours. D. Pedro torna a maçonaria proscrita e se enche de amores pelo partido português! Em maio de 1823 foi montada a Assembleia Constituinte para suprir o país emergente de uma carta constitutiva; era uma condição efetiva para que o Brasil se revelasse ao mundo como nação soberana e independente; a primeira vítima do monarca foi José Bonifácio. Apesar de sua formação iluminista e sua condição de ministro, além de ex-Grão-Mestre da Ordem Maçônica, D. Pedro transformou-o em mera figura decorativa do governo, impotente e impossibilitado de influir na fortíssima personalidade do Imperador. O primeiro ato imperial logo que conseguiu a consolidação da independência, foi justamente afastar do poder os irmãos Andrada, obstáculos aos seus propósitos absolutistas, exonerando-os de seus cargos governamentais. Isso aconteceu em julho de 1823; José Bonifácio e Martim Francisco deixaram o governo! Mas os irmãos possuíam também uma personalidade forte e, por isso, assumiram uma oposição firme ao lado do irmão Antônio Carlos, que seria eleito deputado constituinte; Juntos eles pelejavam contra os excessos do imperador por intermédio dos jornais “A sentinela da Liberdade” e “O Tamoio”, ambos de sua propriedade.
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Nova pausa para reunir os pensamentos. Casimiro prosseguiu:
― Rompidas definitivamente as relações com Portugal passava a ser importantíssimo organizar os fundamentos para instalação da assembleia constituinte; o imperador queria dar um cunho pessoal ao evento, por isso  ventilava-se a questão dos direcionamentos para recrutar o eleitorado que deveria votar. Estabeleceram-se então os critérios para a escolha dos deputados que cumpririam a importante missão de dotar o país de uma lei para estabelecer diretrizes.
O velho suspirou e esclareceu:
― O anteprojeto, organizado de forma a ser o esboço da Constituição, depois de demoradas sessões para aprovação foi apresentado para discussão na Assembleia, somente em setembro de 1823. Sabe-se que continha 272 artigos, inspirados, parcial­mente, nos ensinamentos dos filósofos iluministas; entre seus principais destaques, estavam o princípio da soberania nacional e o liberalismo econômico. Por precaução, rejeitou-se qualquer posição referente à democracia; assim ficou definitivamente afastada qualquer participação popular na vida política do país até a proclamação da república.
Eu escutava atentamente as explicações do meu novo amigo. Pensei comigo: Puxa, encontrei uma verdadeira enciclopédia... Sorte a minha...
Deixei Casimiro prosseguir com sua explanação:
― O anteprojeto apresentava, também, um forte caráter anticolonialista. Era, sem sombra de dúvida de cunho xenófobo, principalmente contra os portugueses. Essa “lusofobia”, entretanto, tinha fundamentos: no Pará, onde houve resistência portuguesa, na Bahia e na Província Cisplatina, território que não aceitava a anexação brasileira, as ameaças de retorno aos tempos coloniais ainda perduravam. O Partido Português continuava em evidência, ávido para retornar ao poder e muito atuante. Nas ruas e nas praças, brasileiros e portugueses, por qualquer motivo enfrentavam-se chegando, na maioria das vezes, às vias de fato. Na Bahia a independência só se consolidou a 2 de julho de 1823, quando as tropas do general português Madeira de Melo retiraram-se após a derrota na batalha de Pirajá; foi também importante nesse episódio a participação pelo mar, através da “frota” de saveiros comandada por João das Botas, que fustigou implacavelmente os portugueses até a chegada do almirante Cochrane, comandante em chefe da armada brasileira.
Casimiro fez uma pausa antes de prosseguir. Depois continuou:
― É claro que o Brasil estava na berlinda perante o mundo, que aguardava com ansiedade uma carta constitutiva que fornecesse ao país a esperada autonomia. Por isso mesmo, é lógico, o anteprojeto foi alvo de duras críticas principalmente por parte do governo. A obstinação de seus idealizadores em “minimizar” o poder imperial desagradou D. Pedro I que, imediatamente, posicionou-se contra a Assembleia. Desde a queda dos ‘Andradas’ o partido português conquistava mais espaço e fazia maiores progressos. Esse segmento de âmbito ultrarreacionário achegava-se cada vez mais ao Imperador, defendendo abertamente o poder absoluto ― e nisso foi plenamente correspondido pelo monarca!
 O velho olhou para o céu e coçou a cabeça:
― A hostilidade étnica entre brasileiros e portugueses aumentava a olhos vistos dia após dia. Isso desembocou inevitavelmente no episódio que deu origem à ‘Noite da Agonia’, de 11 para 12 de novembro de 1823. Essa passagem teve lugar durante uma sessão muito extensa da primeira assembleia constituinte do Brasil, onde os membros aventavam a conjectura da retirada ou da manutenção dos poderes do imperador. Dom Pedro I, tomando conhecimento do debate, enviou aos parlamentares durante a madrugada, por intermédio do brigadeiro José Manoel de Moraes, um decreto que dissolveu a Assembleia; a missiva ainda prometia para breve a elaboração de uma nova carta constitutiva nos moldes requeridos. Requeridos por ele, é lógico.
― Tal ato causou uma grande comoção e mal-estar entre os deputados constituintes, que passaram então a manifestar seus protestos em total desacordo com aquela medida unilateral em plenário A culminância se deu com a prisão e deportação dos irmãos Andrada ― José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos.
Casimiro parou um pouquinho e com voz divertida comentou:
― Ali chegou ao fim o breve período em que a aristocracia brasileira esteve no poder. Em seu lugar, D. Pedro I estabeleceu o absolutismo apoiado pelo “partido português”!
Completei:
― Acho que a aristocracia brasileira nunca esteve no poder, pelo menos nessa época. Às vezes tenho a impressão de que se a independência fosse feita por um brasileiro teríamos conseguido melhor sorte no desenvolvimento do país. Não vejo D. Pedro I com o menor cacoete de administrador...
― Seu comentário tem muita veracidade ― concordou o velho. ― Mas a dissolução da Constituinte acarretou grande descontentamento. E para minimizar o acontecido, D. Pedro nomeou rapidamente uma comissão de dez membros ― o Conselho de Estado ― com objetivo de redigir um texto constitucional. No dia 25 de março de 1824, uma carta constituinte foi outorgada à nação. Essa foi a primeira constituição do Brasil.
Ele fez uma pausa comprida, suspirou, coçou o queixo... depois explicou:
― Veja bem, o conteúdo redacional do novo texto constitucional estava assentado, em inúmeros pontos do anteprojeto preparado por Antônio Carlos de Andrada. A grande inovação foi a adoção de um quarto poder, chamado de ‘moderador’, que se juntou à já consagrada fórmula tripartite ― executivo, legislativo e judiciário. Essa constituição, apesar de outorgada, trouxe credibilidade e autoridade ao império; entretanto havia algumas particularidades: a Carta de 1824 assumia, por exemplo, o catolicismo como religião oficial. Isso modificou a relação entre a Igreja e o Estado, que passou a ser regulada através do regime chamado padroado; nele os clérigos recebiam salário pago pelas autoridades imperiais, fato que os equiparava a simples funcionários públicos. Além disso, passou a ser prerrogativa do imperador a nomeação de sacerdotes aos vários cargos eclesiásticos, o que suscitava influência política, e ainda dar aquiescência aos decretos ou bulas papais, ou melhor, às disposições oriundas da Santa Sé.
Casimiro ia repassando de maneira bastante satisfatória a história do Primeiro Reinado; falava de forma explícita, explicativa, apesar de eu ter notado que não havia nele qualquer pretensão de se passar por historiador. Confesso que nunca tivera a oportunidade de me aprofundar tanto anteriormente na história da independência de meu país. Isso fazia com que eu prestasse agora muita atenção às explicações de Casimiro a quem à essa altura, sem qualquer favor, eu já considerava um mestre. A história ia fluindo naturalmente dos lábios do ancião:
― O absolutismo imposto por D. Pedro I, um déspota assumido ― afirmou meu interlocutor ―, gerou enorme insatisfação e constrangimento não apenas na nobreza, mas no povo em geral. No nordeste, a contrariedade foi particularmente demonstrada após a nomeação dos presidentes de províncias, em fevereiro de 1824. A aristocracia rural nordestina, composta principalmente de usineiros, não concordou em ver-se alijada de um processo de autonomia administrativa, esperança acalentada durante muito tempo.
Ele fez uma espécie de adendo explicativo:
― Não há dúvidas quanto à profunda modificação imposta pelo novo modelo econômico do Império: ― De fato, a integração territorial e monetária do país era, extremamente, precária.
Solicitei ao velho que explanasse melhor sua opinião sobre o assunto. Ele suspirou e esclareceu com mais minúcias:
― Note bem, a ausência de união nacional explicava-se pela conservação do caráter colonialista da economia brasileira. Cada província dependia muito mais de suas exportações do que de um intercâmbio entre elas, ou melhor, não existia praticamente nenhum mercado interno de consumo. No plano político, trocou-se Lisboa pelo Rio de Janeiro, onde um imperador português, absolutista e meio louco, tomava sozinho todas as decisões importantes sem levar em conta os anseios provincianos. Para o nordeste, a independência não havia contribuído com nada ou alterado coisa alguma; substituir Lisboa pelo Rio não resolvia as aspirações de participação no governo central. E os nordestinos não enxergavam nisso qualquer vantagem: muito pelo contrário, só pressentiam prejuízos.
Anotei:
― Já naquela época o nordeste começou a ser abandonado pelas autoridades, não acha? Esse fato perdura até hoje. O nordeste continua abandonado, carente, às vezes miserável e sofrendo imensos preconceitos, sem falar, é claro, nos prejuízos que tomou durante tantos anos. Você não acha que capital do país no Rio de Janeiro centralizou muito o poder?
Casimiro assentiu com a cabeça:
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― Foi justamente por isso que em 1824 e 1825, deflagrou uma rebelião em Pernambuco; era a Confederação do Equador, de funestas consequências econômicas, sociais e morais para a monarquia e que culminou com o fuzilamento de Frei Caneca, um dos líderes, junto com mais outros dezesseis conjurados; este levante, em conjunto com a questão cisplatina, acarretou um enorme prejuízo às finanças brasileiras, inclusive ferindo profundamente o prestígio do novo governo que surgia.
― Na esfera política, a independência não produziu qualquer mudança bem-sucedida ou produtiva; o modelo persistia na velha fórmula colonialista e escravocrata. Era evidente ― como é até hoje ― que o equilíbrio econômico-financeiro do Primeiro Rei­nado estava atrelado a uma boa performance das exportações. ― constatou o ancião.
― E justamente por esse motivo ― continuou ―, que a primeira metade do século XIX foi decisiva para a economia do império. O açúcar brasileiro, na época a nossa mais importante fonte de exportação, sofria uma vigorosa concorrência de Cuba e Jamaica, sem contar com a pressão exercida pelo açúcar de beterraba da Europa. Outras mercadorias, como por exemplo, o algodão e o arroz disputavam o mercado internacional com os Estados Unidos que já penetrava firme na produção mundial estabelecendo-se como grande nação exportadora. O tráfico negreiro, devido à vigilância inglesa sobre os navios que transportavam escravos, retraiu-se influindo deveras na produção brasileira, principalmente na lavoura do fumo e do açúcar, produtos básicos das exportações. A Argentina, na época “Províncias Unidas do Rio da Prata”, incrementou o crescimento da sua pecuária bovina e acarretou queda acentuada no comércio de couro do Brasil, fazendo os preços despencar prejudicando a arrecadação imperial.
Uma pausa para espremer as reminiscências e relembrar os fatos. Depois ele prosseguiu:
― O arrocho financeiro atingiu o clímax com a eclosão da ‘Guerra Cisplatina’, em 1825. A revolta teve início quando Lavalleja, um líder uruguaio, invadiu a Província Cisplatina com sua tropa apoiada pelos habitantes da região e decretou a sua incorporação à República das Províncias Unidas do Rio da Pra­ta. O Brasil replicou imediatamente declarando guerra à Argentina. O conflito continuou até 1828, quando o Brasil e a Argentina, de mútuo acordo, reconheceram a independência da Cisplatina, que passou a se chamar República Oriental do Uruguai.  D. João VI morreu em 1826, por conseguinte, um ano após o início da ‘Guerra Cisplatina’; e aí, o velho fantasma de se retornar à condição de colônia voltou a assombrar os brasileiros; é verdade que D. Pedro havia renunciado ao trono português em favor de sua filha Maria da Glória, mas, mesmo assim, o medo de uma volta ao domínio português, ameaçava a estabilidade do Império. Em 1828, justamente na ocasião em que a Guerra Cisplatina chegava ao fim, D. Miguel, irmão de D. Pedro, assumiu o trono português através de um golpe de estado. A possibilidade de D. Pedro enviar tropas brasileiras a Portugal para restabelecer o trono depondo o usurpador e reempossando sua filha trouxe novas inquietações, pois essa interferência poderia restabelecer a união das duas monarquias.
Casimiro deu um suspiro e prosseguiu:
― D. Pedro não era popular. Aliás, ele a cada dia se impopularizava mais, e isso se revelou no recrudescimento da oposição. Para apoiar o imperador e sustentar a sua política absolutista, os membros do ‘partido português’ constituíram uma sociedade denominada ‘Colunas do Trono’. A oposição liberal respondeu com a criação da ‘Jardineira’ ou ‘Carpinteiros de São José’ ― possivelmente as duas organizações eram amparadas pela maçonaria que apesar de ter sido proscrita pelo monarca continuava atuante e influindo nas decisões, como sempre, aliás.
― A situação chegou a limites insustentáveis para o governo. As queixas partiam de todos os setores da sociedade, menos do Partido Português. Tentando amenizar os fortes movimentos de oposição que cresciam nos principais espaços do debate político, Dom Pedro I optou por empreender uma ‘turnê’ através de várias províncias; resolveu partir acompanhado de sua esposa, D. Amélia de Leuchtenberg, a imperatriz de personalidade forte e marcante; para tal organizou uma bela e pomposa comitiva cuja missão principal era reverter o deteriorado quadro de insatisfação extrema nas províncias, gerado pela política praticada através governo imperial. O cortejo seguiu até a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, o primeiro ponto programado para parada do Imperador. 
Casimiro fez um comentário à parte:
― Na época, os jornais levantavam suspeita do envolvimento de D. Pedro I no assassinato do jornalista Líbero Badaró. Badaró era um oposicionista contumaz e escrevia artigos bombásticos denunciando os desmandos do governo imperial e também a falta de experiência, ou melhor, a imperícia do Imperador no trato com a coisa pública. Resultado: foi eliminado! A investigação sobre sua morte, muito mal averiguada, diga-se de passagem, reforçava as suspeitas da participação governamental na tragédia.
O mestre prosseguiu:
Por essa razão, ao chegar a Minas, o Imperador e a corte foram recebidos por um protesto velado: os cidadãos cerravam as portas de suas casas e revestiam suas janelas com tecido preto, simulando luto. Esse protesto em repúdio ao assassinato do jornalista Líbero Badaró produziu em Dom Pedro I uma profunda decepção e a vontade de não continuar a viagem, retornando, de imediato, para o Rio de Janeiro.
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― Os portugueses da capital, em compensação, resolveram preparar uma festança para recepção do monarca. Na noite de 13 de março de 1831, os brasileiros descontentes saíram às ruas xingando os portugueses com palavras ofensivas e bradando vivas à liberdade e a constituição brasileira. O repúdio acabou gerando um conflito a céu aberto entre portugueses e brasileiros; uma verdadeira batalha campal: os mais diversos objetos foram lançados como projéteis pelos grupos rivais, inclusive muitas garrafas. Esse foi o motivo pelo qual o fatídico episódio acabou ganhando o nome de “Noite das Garrafadas”.
― Os conflitos ainda se prolongaram durante mais de quatro dias, marcando com violência os últimos momentos que antecederam a abdicação de Dom Pedro. 
Eu sabia um pouquinho de história do Brasil e até me julgava bom, porém, estava impressionado, pois o conhecimento de meu interlocutor era bem maior do que o meu! Casimiro não titubeava e ia narrando os fatos históricos com uma precisão como se estivesse estado ali presente! Ele sorriu para mim como se estivesse lendo os meus pensamentos e continuou:
― No dia 19 de março de 1831, instaurou-se um Ministério constituído por brasileiros natos, porém desconhecidos. Com a nova polarização que pretendia minimizar os efeitos que se alastravam por todo o país, os ânimos se exaltaram de lado a lado. O "partido português", em 4 de abril, lançou uma nova provocação, comemorando o aniversário de D. Maria da Glória, filha de D. Pedro e herdeira legítima do trono português. Novos conflitos eclodiram entre as facções contrárias. D. Pedro dissolveu o ministério brasileiro e organizou outro, francamente absolutista, o célebre ‘Ministério dos Marqueses’ ou ‘Ministério dos Medalhões’.
― Ocorreu então uma nova manifestação no Rio ― continuou o velho ― na qual se reivindicava o retorno do ministério deposto. Apesar da insistência de setores civis e militares para que D. Pedro acatasse, ele manteve-se irredutível. Essa atitude do imperador determinou a passagem do General Francisco de Lima e Silva, pai do futuro Duque de Caxias e importante chefe militar do Império, para a oposição.
― Com isso o imperador ficou completamente iso­lado e sem apoio. Não contava mais sequer com as tropas para reprimir as manifestações. Já não restava alternativa senão abdicar. E foi o que ele fez, em favor de seu filho D. Pedro de Alcântara, que estava com, apenas, cinco anos de idade.
O velho assumiu uma voz solene, como se narrasse um fato de extrema importância para a história:
― No dia 7 de abril de 1831, D. Pedro I deixou de ser imperador do Brasil e, em seguida, abandonou o país com a família, embarcando para Portugal. Mas antes se reconciliou com os Andradas, nomeando José Bonifácio como tutor de Pedro de Alcântara!
Ai eu acrescentei sorrindo:
― E aí se acabou o reinado de D. Pedro I! Dizem que ele era farrista e mulherengo ao extremo. É verdade ou existe muito exagero?
Casimiro deu uma gostosa risada. Com a fisionomia satisfeita comentou:
― É verdade! Como bom português ele era doido por uma mulata; e costumava sair disfarçado à noite para se meter em tabernas, bebendo e participando de orgias. Teve inúmeras amantes, o nosso monarca.
― A mais conhecida é a Marquesa de Santos ― completei. Domitila era o seu primeiro nome, se não me engano. Dizem que havia um túnel ligando a residência do Imperador ao palácio da marquesa...
― Não acredito ― atalhou Casimiro. ― Mas de qualquer forma o imperador era um libertino. Com a marquesa D. Pedro teve uma filha, Isabel Maria, a duquesa de Goiás. No início de seu casamento com Amélia de Leuchtemberg, ele queria que a filha bastarda fosse morar em palácio, mas a imperatriz proibiu a sua presença. D. Amélia também era geniosa e, com ela, D. Pedro não tinha vez. Mais tarde, depois da abdicação, D. Amélia voltou atrás adotando a duquesa de Goiás e tornou-a sua filha.
Uma moça simpática acompanhada de um rapaz igualmente simpático aproximou-se de nós.
― Vamos vovô ―  disse ela.
E Casimiro acompanhou-a perdendo-se na distância e no tempo. Restou a mim escrever nosso encontro da melhor forma possível para que ele não se se desfizesse na fumaça daquilo que foi e que já passou.
Fergi Cavalca





[1] A tradução da frase latina diz: “Adora o que queimaste e queima o que adoraste”. (nota do autor).